Entenda por que JF tem ‘quatro estações em um mesmo dia’

Especialista explica os fatores geográficos e meteorológicos que influenciam nas frequentes variações das condições do tempo na cidade

Se você é juiz-forano ou mora na cidade há muitos anos, é comum sair de casa levando casaco, sombrinha, óculos de sol e roupa de calorA brincadeira de “bota casaco, tira casaco” que se popularizou nas redes sociais não é tão brincadeira assim. Acordar e ter a certeza de que no mesmo dia pode fazer calor, frio, sol e chuva faz parte da rotina de quem vive aqui. Mas o que está por trás dessa oscilação das condições do tempo em Juiz de Fora? A Biosfera desta semana convocou um especialista para entender os motivos que fazem jus a essa fama.

O climatologista e professor do curso de geografia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Fábio Sanches explica que existe uma série de fatores que influenciam na grande variação das condições de tempo em Juiz de Fora, sendo recorrente algumas acontecerem durante o mesmo dia. A localização geográfica do município é um desses elementos.

 

 

 

“A climatologia das chuvas para nossa região pode ser classificada como típica da tropicalidade, com uma estação chuvosa dos meses de outubro a março e outra seca, de abril a setembro”, explica o professor. O auge da estação seca ocorre nos meses de inverno, sobretudo, em junho, junho e agosto. Essa estação se destaca, também, pelas menores temperaturas registradas, com médias mensais de 16,9, 16,7 e 17,3 graus, segundo Sanches. Por outro lado, os meses de dezembro (310,4 milímetros) e janeiro (297,4 milímetros) se destacam como os mais chuvosos e, da mesma forma, dezembro, janeiro e fevereiro se apresentam como os mais quentes, com médias de 21,2, 21,8 e 22,1, respectivamente.

Ventos úmidos, mares de morros e topografia acidentada

“Estamos não muito distantes dos ventos que escoam do litoral para o continente e que sobem a serra fluminense. Parte dessa umidade consegue chegar até aqui pelo transporte dos ventos. Ao mesmo tempo, quando outras massas de ar continentais estão atuando sobre a região, ventos úmidos provenientes da Amazônia (Jatos de Baixos Níveis) contribuem no aporte de umidade para nossa região”, aponta o pesquisador.

Os mares de morros de Minas Gerais também impactam nas variações. Segundo o climatologista, quando estamos sob ação de massas de ar, quentes ou frias, as condições do relevo montanhoso juntamente com a altitude podem alterar as condições atmosféricas, ou seja, as chuvas, ventos e temperaturas podem variar de uma hora para a outra. Além disso, a topografia de Juiz de Fora, com partes mais altas e outras mais baixas, afetam essa oscilação. De acordo com um mapeamento da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), elaborado em 2018, as áreas de morros representam 38% do município.

Além das condições geográficas da cidade, Fábio também destaca a interferência das mudanças climáticas em nível local. “Temos estudos que demonstram que as temperaturas mínimas estão mais elevadas, bem como as temperaturas máximas em alguns meses.” Juiz de Fora tem ficado cada vez mais quente. A população tem enfrentado dias com temperaturas superiores a 30 graus, enquanto os picos de frio, com termômetros abaixo dos 10 graus, têm diminuído, como apontam as pesquisas do Laboratório de Climatologia e Análise Ambiental da UFJF, do qual Fábio é um dos coordenadores.

Em relação aos índices pluviométricos, os pesquisadores também notaram a maior ocorrência de eventos extremos associados às chuvas, principalmente nos meses de novembro. “No entanto, o que mais podemos sentir – como exemplo de alterações no clima local – são os efeitos da cidade nas condições climáticas”, afirma Fábio.

Inverno deve ser menos frio

Durante o inverno deste ano, que teve início nesta quarta-feira (21), a expectativa é de que os termômetros marquem temperaturas um pouco mais altas do que o normal, já que os efeitos do fenômeno El Niño, que acontece na faixa equatorial do Oceano Pacífico, devem ser sentidos no Brasil. Mas o frio continua, afinal, a estação corresponde a menores temperaturas e volumes de chuva. “As entradas de massas de ar frio (após as frente frias) podem promover temperaturas mínimas diárias que podem chegar a 6 a 7 graus.”

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