Prisões por tráfico de drogas crescem 67% em JF

Dados foram apresentados durante audiência pública sobre o avanço do narcotráfico e facções criminosas na Zona da Mata

As prisões relacionadas ao tráfico de drogas em 2023 em Juiz de Fora cresceram 67% em relação ao ano passado. De janeiro a outubro, foram efetuadas 1.118 prisões na cidade. Em 2022, no mesmo período, o número foi de 670. Os dados foram apresentados pela Polícia Militar (PM) durante audiência pública realizada na tarde dessa segunda-feira (6) na Câmara Municipal de Juiz de Fora. O encontro, solicitado pela Comissão de Prevenção e Combate ao Uso de Crack e Outras Drogas da Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais (ALMG), por meio da deputada estadual Delegada Sheila (PL), buscou debater o avanço do narcotráfico e de facções criminosas na Zona da Mata.

Os dados apresentados pela PM demonstram o trabalho da corporação ante um avanço de facções criminosas na cidade. De acordo com o coronel Marco Aurélio Zancanela, comandante da 4ª Região da PM, historicamente, os traficantes de Juiz de Fora estariam ligados ao Comando Vermelho, da cidade do Rio de Janeiro. Porém, desde 2020, a corporação vem observando também a presença de criminosos filiados ao Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, que começou sua atuação pelo Bairro Santo Antônio, na Zona Sudeste de Juiz de Fora.

 

 

 

 

“Nós vemos uma tentativa do PCC de querer entrar na cidade e, se você tem pessoas que compram de uma certa facção e vem outra oferecendo drogas, há uma tendência de disputa, e a disputa, para quem está fora da lei, é no cometimento de crimes, como homicídio”, disse o coronel. “Em agosto de 2022, esses integrantes executaram dois menores no Vila Ideal, que pertencem ao Comando Vermelho, e outro chegou a ser homicídio tentado, mas não veio a óbito. Desde então, temos uma ‘timeline’ (linha do tempo) para acompanhar a evolução do crime, onde PCC mata Comando Vermelho, Comando Vermelho mata PCC, e aí começa uma onda de crimes”, explica.

 

Além das prisões por drogas, o coronel Zancanela apresentou também outros dados envolvendo a atuação da corporação em Juiz de Fora. Até outubro deste ano, a PM efetuou 241 prisões por crimes violentos, como homicídios tentados e consumados, estupro, furtos e roubos. No mesmo período de 2022, foram 205 prisões, o que representa um aumento de 17%.

Considerando todas as prisões, Juiz de Fora registrou um crescimento de 35%. Em 2022, de janeiro a outubro, foram feitas 5.382 prisões, enquanto em 2023 foram 7.296. A PM também observou um aumento de 23% nas apreensões de armas de fogo. Foram 294 apreensões em 2023 e 238 em 2022.

 

Audiência debate preocupação com sistema prisional

De acordo com a deputada estadual Delegada Sheila, a Comissão de Prevenção e Combate ao Uso de Crack e Outras Drogas da ALMG atua em quatro eixos: prevenção, recuperação de dependentes químicos, reinserção social e repressão, ponto que, de acordo com a parlamentar, merece maior atenção no combate ao tráfico de drogas. A preocupação com Juiz de Fora e região ocorre, especialmente, pela proximidade com o Rio de Janeiro e com os homicídios que vêm sendo registrados recentemente.

“O Estado do Rio de Janeiro vem passando por um problema crônico de segurança pública e, nesse momento, haverão algumas atividades mais invasivas nos setores de segurança pública e, como já aconteceu anteriormente, é comum que quadrilhas inteiras e facções migrem as suas atividades para o entorno, principalmente aqui, que é uma região onde nós temos muitas estradas vicinais, muita área rural, onde é muito fácil o esconderijo de drogas e de armas de fogo”, aponta.

Conforme Sheila, outra preocupação que motivou a audiência está ligada ao sistema prisional. “Nós sabemos que o nascedouro das facções criminosas no Brasil, historicamente, são os presídios, e a gente precisa ter um olhar muito especial para esses locais também.”
Durante a audiência, o diretor regional da Polícia Penal, Jefferson de Alcantara, apresentou um balanço da 4ª Região Integrada de Segurança Pública (Risp). A capacidade das unidades prisionais da região é de 3.701 vagas. Porém, atualmente, a 4ª Risp tem 5.400 pessoas presas, o que significa uma lotação de cerca de 45% acima da capacidade. Os números se referem às unidades prisionais das cidades de Juiz de Fora, Além Paraíba, Bicas, Carangola, Ervália, Eugenópolis, Leopoldina, Cataguases, Matias Barbosa, Rio Pomba, Ubá, Visconde de Rio Branco e Viçosa.

Apesar da lotação acima da capacidade, de acordo com Alcantara, o número ainda não é considerado como superlotação e, para evitar que isso ocorra, o sistema prisional tem feito uma distribuição das pessoas privadas de liberdade, inclusive as relacionadas às facções criminosas. Como explicado pelo diretor regional da Polícia Penal, há um trabalho de inteligência para conter o atrito de facções dentro das unidades prisionais por meio da separação das pessoas ligadas ao Comando Vermelho e ao PCC. “Nós começamos a fazer uma distribuição dos faccionados, permanecendo sua grande parte (Comando Vermelho) em Juiz de Fora, e os que se declaram ou que temos informações de que são do PCC, pedimos a transferência para outras Risps, respeitando as vagas dessas regiões.”

 

Força-tarefa de combate ao crime organizado

Em 2023, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) criou uma força-tarefa de Combate ao Crime Organizado em Juiz de Fora e Zona da Mata, de acordo com Márcio Rocha, coordenador da força-tarefa. “Essa força-tarefa foi uma demanda da nossa chefia de polícia, que é sensível ao aumento dos índices aqui em Juiz de Fora. Ela criou essa força-tarefa para que a gente mapeasse e entendesse esse fenômeno, como o crime organizado estava atuando com o Juiz de Fora”, explica.

Durante a audiência, o delegado Marcos Vignolo, delegado da força-tarefa, destacou alguns resultados que a ação já apresentou, como mandados de busca e apreensão, apreensão de mais de 250 quilos de maconha e de armas de fogo, além de ter evitado um sequestro com a prisão dos envolvidos antes do crime.

Também participaram da audiência pública o chefe do 4º Departamento da PCMG, Eurico da Cunha Neto; o superintendente da PCMG, Julio Wilke; o chefe do departamento da Polícia Federal em Juiz de Fora, Carlos Henrique Cotta Dangelo; e o delegado regional do 4º Departamento da PCMG, Bruno dos Santos.

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