Primeiro Plano começa nesta terça com o lançamento de filmes financiados pelo festival

Quatro realizadoras vão ter seus filmes exibidos no Teatro Paschoal Carlos Magno, a partir das 20h

Quatro realizadoras vão ter seus filmes estreados, nesta terça-feira (24), no Primeiro Plano – Festival de Cinema de Juiz de Fora e Mercocidades, no Teatro Paschoal Carlos Magno, a partir das 20h. São quatro filmes com temas diferentes, mas frutos de incentivos do próprio festival, a partir de premiações em edições passadas ou em laboratórios de curtas-metragens. Na tela, “Meio Éden”, de Clara Estolano, “A verdade dentro do meu armário”, de Laura de Souza, “Festa para duas”, de Marina Polidoro, e “Apto 101”, de Kamila Weder, poderão ser vistos pela primeira vez. A sessão ainda conta com exibição do curta do veterano José Sette de Barros, “Ver tigem”. 

É de praxe o Primeiro Plano iniciar a programação do ano com realizadores que tiveram seus filmes premiados. A cada ano, fica nítido um caminho de transformação: seja da linguagem cinematográfica do realizador ou do roteiro que ganha as telas com outros significados e proporções. No caso de Kamila e Marina, elas foram premiadas em edições passadas com filmes apresentados no festival. Marina ganhou o Prêmio Incentivo Primeiro Plano em 2021, com o filme “Meu arado, feminino”. Kamila foi premiada com o mesmo incentivo, em 2022, com o curta de animação “Entre azuis”. A partir disso, elas puderam produzir os filmes que serão exibidos nesta terça. Já no caso de Clara e Laura, elas tiveram seus roteiros trabalhados em laboratórios. “Meio Éden”, de Clara, foi o curta vencedor do Laboratório de Curtas Luzes da Cidade, e “A verdade dentro do meu armário”, de Laura, o Laboratório de Curtas Rainbow 2022. 

 

Clara

Desde os 15 anos, Clara tinha esse desejo de cursar Cinema. Principalmente porque gostava da edição. “Achava um tanto mágico.” Essa vontade foi sendo deixada de lado, vendo as dificuldades do mercado brasileiro. “Depois, não teve jeito, parecia que esse era o único curso que eu tinha vontade de estudar.” A primeira aula confirmou que era isso mesmo. “Gosto de criar histórias e explorar os meios de contá-las e me identifico com a maneira que o cinema me proporciona isso”, afirma. 

Como cursou Cinema e Audiovisual na UFJF, e o Primeiro Plano sempre foi muito divulgado, ela participou da mostra on-line, em 2020, com o curta caseiro “Póstuma”, que produziu na pandemia. De olho nas publicações do festival, viu que abriram vagas para o Laboratório de Curtas e se inscreveu. “Decidi adaptar um conto que tinha escrito no ano anterior. No meio disso, decidi, também, que esse seria meu Trabalho de Conclusão de Curso.” De acordo com ela, o laboratório foi essencial para que o roteiro tivesse a cara que tem hoje. “O Fidelys, a Dani e a Danddara (os responsáveis por avaliar e trabalhar o roteiro) trouxeram pontos e ideias que me ajudaram a questionar o roteiro e encontrar o caminho.”

Com o incentivo, Clara partiu para a produção. “Foi a primeira vez que produzi um curta desse tamanho, a primeira vez que gravei em locação, a primeira vez que busquei parcerias.” E, por isso, ela considera “Meio Éden” o projeto mais articulado que já fez, graças a esse apoio financeiro. A obra fala sobre violência doméstica, mas deixa isso claro nas imagens. Apenas as consequências são expostas. O curta acompanha Ádina, enquanto ela faz as tarefas de sua rotina, depois de viver um momento difícil com seu marido. “Eu queria trabalhar o espaço entre o trauma e a consciência dele, o estado de choque antes da ficha cair. E a Ádina, como todas as protagonistas que criei até agora, não é só uma vítima. Mas isso vocês entendem melhor assistindo.”

Ela ainda vê esse prêmio como validação do seu trabalho. “No meio artístico, às vezes, pode ser difícil manter o vigor e acreditar no potencial das suas ideias. Então foi, de fato, uma honra ter sido agraciada com essa oportunidade.” 

“Meio Éden” (Foto: Divulgação)

Laura

O fascínio de Laura sempre foi escrever roteiros. E ter um laboratório voltado para isso era a oportunidade que ela não poderia perder. Ainda mais sabendo que poderia produzir um curta com auxílio financeiro. “Além do prêmio, fiquei interessada em participar do laboratório e ouvir a opinião dos jurados e dos participantes a respeito do meu roteiro e minha forma de escrever uma narrativa”, confessa ela, que ainda é estudante de Cinema e Audiovisual da UFJF. 

O Laboratório de Curtas Rainbow tem essa missão de pensar em filmes voltados para a comunidade LGBTQIA+. E foi com esse recorte que ela pensou em “A verdade dentro do meu armário”. “Derivada da ideia de fazer um curta LGBT para o público jovem, nasceu a protagonista Ângela que, aos seus 17 anos, vive em sua zona de conforto com medo de assumir para si mesma a sua sexualidade, até que ela se vê desafiada a superar isso com a chegada de uma nova aluna no colégio, e se pergunta se vai ser fácil encarar a verdade que esse seu  ‘armário’ esconde.” 

“Ser vencedora do laboratório de roteiros foi um divisor de águas para mim. O que começou com um projeto de roteiro, hoje em dia se transformou no meu TCC, e tem me proporcionado várias experiências, como dirigir meu primeiro curta-metragem e ainda ter o privilégio de estreá-lo no Primeiro Plano.”

“A verdade dentro do meu armário” (Foto: Divulgação)

Kamila

Já Kamila entrou no Instituto de Artes e Design mais interessada na ilustração. A partir disso, surgiu o interesse em experimentar a produção de uma animação. Foi dessa experimentação que surgiu o “Entre azuis”, seu filme e animação que foi premiado em 2022 no Primeiro Plano. Com o prêmio, ela foi pensar em um outro filme. Ela já até tinha um roteiro antigo. Um dos poucos que não era de animação, já que não sabia que conseguiria entregar uma nova animação em um ano. “Então, optei por um ‘live-action’. A ideia de trabalhar com mais pessoas, em set, experiências que eu já estava tendo nos últimos meses, também me agradava mais.”

“Apto 101” foca as cenas de discussão de um casal. “Quando nada vai para frente, a conversa não rende e só o foco dos dois personagens que importa. A história conta apenas isso, uma briga de um casal entre Laura e Felipe. Aos poucos, vamos descobrindo algumas peculiaridades de cada um, traços de personalidades, jeito de agir, apenas nesse pequeno espaço de tempo que ocorre o curta, um final de tarde”. 

Kamila diz que o trabalho foi gravado em quatro dias em julho, e tudo isso foi responsável por uma experiência bem diferente da que teve com “Entre azuis”. Seu filme de animação teve o incentivo da Lei Aldir Blanc e, esse, do Primeiro Plano. “Para alguns cineastas, por vezes, são os únicos apoios que eles possuem para a produção de um filme. É o momento que sentimos que estamos sendo vistos pela cultura da cidade, que estamos sendo levados a sérios para a confiança desse dinheiro e da distribuição dele para o salário de mais pessoas ligadas a culturas, de mais giro de capital e de mais filmes produzidos na Zona da Mata.”

“Apto 101” (Foto: Divulgação)

Marina

Quando “Meu arado, feminino” ganhou o prêmio do Primeiro Plano, em 2021, Marina estava em Fortaleza, participando de outro festival em que seu filme também foi um dos vencedores. Foram 11 festivais e oito prêmios. Ainda assim, para ela, o Primeiro Plano foi fundamental para dar visibilidade local para o filme, que conta as histórias de mulheres camponesas e foi gravado em Guaçuí (ES), cidade de sua família. “Foi um filme muito gostoso de fazer. Não tinha muitas amarras, porque eu ainda era uma estudante, então eu podia experimentar muita coisa”, confessa ela, que também fez cinema na UFJF. 

Pensar em “Festa para duas” foi também um outro processo. “É um filme que eu estava muito comprometida em fazer porque eu queria honrar o ‘Meu arado, feminino’, do qual gosto muito apesar de ser mais simplório, porque eu tinha menos verba.” Ela queria que seu novo filme fosse bom mais no sentido criativo, já que até então não tinha feito ficção. No começo, Marina queria produzir uma comédia, percebendo que esse gênero não é tão comum no Primeiro Plano. Mas o caminho que encontrou que encaixava o que tinha na cabeça foi a dramédia, mesclando, como o nome sugere, drama e comédia. 

O curta é sobre os processos pelos quais as adolescentes costumam passar. Conta sobre Alana, que ganha uma festa de debutante de sua avó. “Ela é pobre, não tem muitos recursos, mas ela é extremamente deslumbrada com a vida.” Complemente apaixonada por uma banda criada para o filme, Alana acaba cometendo um deslize com a avó, super religiosa. Ela usa o espaço da igreja para abrigar um encontro de fãs, mesmo sem permissão. “É um ato de rebeldia, mas também é um ato de irresponsabilidade porque ela precisa amadurecer ao ponto de saber o que ela vai fazer. É um filme que o principal dele é levar um pouco a sério, pelo ponto de vista daquela menina, essas paixões adolescentes”, resume. 

Além de ter tido a oportunidade de experimentar coisas novas, Marina acredita que essa premiação é uma oportunidade até de aprender a lidar e pensar na distribuição de verbas, ainda mais levando em conta que se trata das primeiras produções dos realizadores. “O Primeiro Plano fazer essa promoção todo ano, ajudando os cineastas, é muito bom porque Juiz de Fora pouco a pouco está se tornando um polo de audiovisual. Nós temos uma faculdade federal aqui de cinema, que forma por ano 30 profissionais, então dá para imaginar o quanto esses profissionais precisam de um incentivo. Porque alguns saem, mas outros ficam, eu fiquei por exemplo e pretendo ficar. Eu pretendo continuar produzindo cinema juiz-forano”, finaliza.

“Festa para duas” (Foto: Divulgação)

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