Prestes a receber 5G, JF ainda não tem plena cobertura de 3G e 4G

Quanto mais longe do Centro da cidade, menor a qualidade de conexão; marcos regulatórios buscam melhores condições de navegação on-line

Quando o celular não consegue alcançar a rede 4G, é comum aparecer a letra H no visor, o que ainda permite navegar, mas em uma velocidade mais lenta, pois é uma tecnologia de geração anterior

O prazo para a implementação do 5G em cidades com mais de 500 mil habitantes como Juiz de Fora foi antecipado para 1º de janeiro de 2023 pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Nas cidades menores, o prazo final é 2029. Apesar de muitos estarem ansiosos para usar a quinta geração de tecnologia para redes móveis, que já chegou às capitais e promete mais agilidade e melhor experiência de navegação, muitos juiz-foranos de áreas urbanas ainda não conseguem usar com plenitude as gerações anteriores, 3G e 4G. Isso sem contar muitos moradores de zonas rurais que não têm nenhum acesso a essas tecnologias.

Apesar de o Procon de Juiz de Fora não ter dados de reclamações específicas acerca das gerações anteriores ao 5G, o órgão apresentou à Tribuna dados do site do Consumidor (consumidor.gov.br), que registrou 4.414 reclamações de juiz-foranos a respeito de operadoras de telecomunicações no ano passado, sendo 474 delas sobre internet móvel, um total de 3,51%. Das reclamações existentes – cobrança indevida, oferta não cumprida, cobrança por serviço -, 6,54% são em relação ao funcionamento adequado do serviço de internet, que pode se relacionar com a qualidade do 3G e 4G em Juiz de Fora.

Em 2022, até setembro, foram registradas 2078 reclamações em Juiz de Fora sobre o mesmo assunto, conforme consta no site do consumidor. Desta quantidade, 229 são sobre internet móvel, um total de 11,02%. Das reclamações feitas, 12,23% são sobre o funcionamento, o que representa um total de 28 reclamações, mais do que o dobro do ano passado, mesmo ainda faltando pouco menos de dois meses para o ano finalizar.

Mudanças de uma geração para outra

O engenheiro de telecomunicações João Lima esclarece que as tecnologias 3G, 4G e 5G são sequências de padrões globais de redes celulares, que com o passar do ano se sucedem incorporando novas características, ferramentas e mecanismos que colaboram para melhorar o desempenho da rede como um todo. “Tais inovações normalmente são sugeridas pelas grandes empresas desse mercado, em reuniões periódicas em órgãos internacionais que visam à padronização das redes celulares e seu funcionamento. Normalmente, a principal mudança de uma geração para outra é a migração da operação para uma rede que se baseia em troca de pacotes, se assemelhando mais a uma rede comum de computadores e internet, justamente visando a integração cada vez maior de dados às redes celulares.”

João explica que, há alguns anos, o celular servia basicamente para chamadas de voz e outros pequenos recursos de dados, como as mensagens SMS. “Mas cada vez menos usamos os tradicionais serviços de voz, ao passo que o uso de dados (chamadas VoIP em aplicativos, navegação web, streaming de vídeos) cresce intensamente. Por isso, a troca de dados tomou centralidade na arquitetura dos padrões mais modernos (4G e 5G). Com isso, diversos novos artifícios foram sendo desenvolvidos para possibilitar uma boa experiência para os usuários que demandam esse tipo de serviço (visando a maiores velocidades, maior estabilidade, menor latência/atraso no envio das informações)”, observa o engenheiro.

Navegando por Juiz de Fora

Mapa Interativo da Anatel apresenta gratuitamente ao público como as modalidades 2G, 3G, 4G e 5G se manifestam nas cinco regiões do país a partir de cores, como o azul, que simboliza alta cobertura, e o vermelho, baixa. Dados de junho de 2022 mostram que o 3G na cidade de Juiz de Fora apresenta uma alta qualidade na região central, como se vê no Centro e São Mateus, em que 100% dos moradores estão cobertos com a tecnologia. Quanto maior o raio – a distância – do Centro, menor a qualidade das tecnologias. No Bairro Nova Califórnia, a taxa passa para 94,44%. Do lado oposto, o Bairro Graminha apresenta uma taxa ainda menor, de 76,46%. Já no Represa, a cobertura é de 29,28%, e na Fazenda Morro Grande, Zona Rural de Juiz de Fora, a taxa cai para 7,73%. É possível encontrar, ainda, pontos em zonas rurais onde a transmissão do sinal 3G é igual a zero, como em Humaitá.

Ao fazer esse mesmo trajeto para avaliar a rede 4G, percebe-se uma realidade um pouco melhor quando comparada com a geração anterior. No entanto, a lógica é a mesma: na região central, a qualidade é 100%, mas ao se afastar dessa área, há queda da qualidade do sinal. No Nova Califórnia a taxa passa para 81,92%. No Graminha, para 91,26%. No Bairro Represa, a cobertura é de 36,9%, e na Fazenda Morro Grande, de 17,37%. Apesar da maioria da cobertura ser um pouco melhor em relação ao 3G, no distrito de Humaitá também não há sinal de 4G.

Segundo João Lima, a explicação para a qualidade cair, à medida que se afasta do Centro, é que as áreas mais afastadas geralmente são menos densas em população, principalmente quando tratamos de áreas rurais. “Com isso, os investimentos por parte das operadoras tendem a ter menor retorno, pois, nesses locais, menos potenciais clientes estão concentrados. Além disso, também é importante notar que, em algumas dessas áreas, também temos uma população com menor poder aquisitivo, diminuindo o retorno possível dos investimentos das empresas.” Além disso, como observa o engenheiro, o relevo de Juiz de Fora e região é bastante acidentado, com muitas montanhas e serras, o que atrapalha a propagação do sinal e possibilita a formação de falhas de cobertura.

Insatisfação dos moradores urbanos

A técnica em meio ambiente Polyana Maria de Mello, moradora do Bairro Democrata, conta que enfrenta muitos problemas com a internet, apesar da plataforma da Anatel informar 100% de qualidade na sua área. “A gente reclama, abre o protocolo e é questão de meia hora para eles regularizarem justificando, então, que são oscilações constantes. Você contrata [o serviço de internet] por ‘x’ megas e de repente ela cai de qualidade, principalmente quando tem pico de energia nas proximidades.”

A situação fica ainda mais complicada quando o uso é para uma necessidade específica, como os estudos dos sobrinhos de Polyana, que precisam de uma internet ágil para realizar os trabalhos escolares. A técnica em meio ambiente, que também é representante do Democrata, apurou com moradores do local e identificou vários vizinhos com o mesmo problema dela em relação ao 3G e ao 4G no bairro.

Já no Bairro Nova Califórnia, muitas operadoras nem figuram na plataforma da Anatel com todos os pontinhos, e as que funcionam apresentam uma forte instabilidade nos dados móveis, como conta a telefonista Lídia Aparecida da Silva, moradora da região. “No momento [em que fala com a reportagem], aqui está aparecendo 4G, mas muitas vezes aparece 3G. O sinal aqui fica assim, variando de uma geração para outra.”

Remadas em busca de uma melhor navegação

Diante da navegação feita a partir do Mapa Interativo da Anatel e relato de moradores, fica evidente a cobertura deficiente das redes 3G e 4G em alguns pontos da cidade. De acordo com o engenheiro de telecomunicações, para reverter tal quadro, um caminho é apostar em marcos regulatórios mais eficientes, na fiscalização e no cumprimento das regras por parte das empresas. “A Anatel, juntamente com os demais instrumentos do Poder Público, devem fazer cumprir as metas de cobertura de serviço. O recente ‘leilão do 5G’ que ocorreu no ano passado tem esse ponto positivo: metas ousadas de expansão da cobertura de banda larga móvel, além da inclusão da cobertura de uma parte significativa das rodovias por todo o país.”

A Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) participa de um projeto estadual chamado “Alô, Minas”, que visa facilitar a implementação de antenas de telefonia celular nos distritos. Em Juiz de Fora, os contemplados são Monte Verde, Humaitá, Penido e Caeté. Em nota à Tribuna de Minas, a Prefeitura afirma ter realizado um processo de busca ativa nos territórios para conseguir o acesso de instalação das antenas já que, em um primeiro momento, os terrenos não foram aceitos pela operadora que venceu a licitação do Governo do Estado.

“As visitas e negociações junto aos proprietários para cessão do terreno para a instalação da antena foram feitas junto com a Comissão de Ciência e Tecnologia, Inovação e Comunicação da Câmara Municipal. Os termos já estão ajustados tanto com a empresa quanto com o proprietário do terreno, por isso, a expectativa é de início de funcionamento em janeiro de 2023 da internet em Monte Verde, Humaitá e Penido”, afirma a nota da PJF.

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