Nobel de Medicina vai para cientistas que abriram caminho para as vacinas contra a Covid-19

Bioquímica húngara Katalin Karikó e o pesquisador americano Drew Weissman estavam a lista de favoritos; eles vão receber um diploma, uma medalha de ouro e um cheque de quase US$ 1 milhão

A bioquímica húngara Katalin Karikó e o pesquisador americano Drew Weissman foram anunciados nesta segunda-feira, 2, como os vencedores do Prêmio Nobel de Medicina de 2023 por seus trabalhos sobre RNA mensageiro (RNAm), que abriram o caminho para o desenvolvimento das vacinas contra Covid-19. Os cientistas, que estavam na lista de favoritos, foram premiados por “suas descobertas sobre as modificações das bases de nucleicas que permitiram o desenvolvimento de vacinas de RNAm eficazes contra a Covid-19”, afirmou o júri. Karikó e Weissman receberão um diploma, uma medalha de ouro e um cheque de quase US$ 1 milhão (cerca de R$ 5 milhões de reais) das mãos do rei da Suécia, Carl XVI Gustaf, em uma cerimônia solene em Estocolmo no dia 10 de dezembro, aniversário da morte de Alfred Nobel (1833-1896), que criou o prêmio em seu testamento.

Karikó, de 68 anos, passou grande parte da década de 1990 redigindo pedidos de subsídios para financiar a sua pesquisa sobre o “ácido ribonucleico mensageiro”, moléculas genéticas que informam às células quais proteínas devem produzir, essenciais para manter os nossos corpos vivos e saudáveis. Ela acreditava que o RNA mensageiro era a chave para tratar doenças nas quais ter mais proteína do tipo certo pode ajudar, por exemplo, a reparar tecidos cerebrais após um acidente vascular cerebral (AVC). Mas a Universidade da Pensilvânia, onde Karikó estava prestes a obter o cargo de professora titular, decidiu frear suas atividades depois que vários subsídios foram rejeitados. Agora, o seu trabalho pioneiro, que abriu caminho para as vacinas Pfizer/BioNTech e Moderna contra a covid-19, rendeu o Prêmio Nobel de Medicina.

Drew Weissman dos EUA, que ganhou o Prêmio Nobel de Medicina de 2023, chegam para uma conferência de imprensa na Universidade da Pensilvânia, na Filadélfia│Mandel NGAN / AFP

O americano Weissman, de 64 anos, condecorado junto com Karikó, não tem intenção de interromper suas pesquisas. Os seus novos objetivos incluem agora o desenvolvimento de uma vacina contra todos os coronavírus. “Houve três pandemias ou epidemias (de coronavírus) nos últimos 20 anos”, explicou ele em setembro de 2021. “Temos que assumir que haverá outras”, acrescentou. “Podemos esperar pela próxima epidemia ou pandemia de coronavírus e levar um ano e meio para criar uma vacina. Ou podemos criar uma agora e tê-la disponível ou mesmo usá-la agora”, explicou o imunologista da Universidade da Pensilvânia. Weissman nasceu em Lexington, Massachusetts, no nordeste dos Estados Unidos, para onde seus pais – um engenheiro e uma assistente de dentista – se mudaram para poder enviar os filhos para boas escolas públicas. Além das vacinas, a tecnologia do RNA mensageiro também se destaca pelo potencial para revolucionar a medicina em todos os níveis.

A temporada do Nobel continuará na terça-feira com o prêmio de Física e na quarta-feira com o prêmio de Química. Na quinta-feira será anunciado o vencedor do prêmio de Literatura e na sexta-feira, em Oslo, será revelado o Nobel da Paz. O prêmio Nobel de Economia, criado em 1969 por iniciativa do Banco Central da Suécia, encerra a temporada no dia 9 de outubro.

 

Vencedores do Nobel de Medicina nos últimos 10 anos

  • 2023: Katalin Karikó (Hungria) e Drew Weissman (EUA) pelo desenvolvimento da tecnologia de RNA mensageiro que abriu caminho para as vacinas contra a covid-19 da Pfizer/BioNTech e da Moderna;
  • 2022: Svante Pääbo (Suécia) pelo sequenciamento do genoma dos neandertais e a criação da paleogenômica;
  • 2021: David Julius e Ardem Patapoutian (Estados Unidos) por suas descobertas sobre a forma como o sistema nervoso percebe a temperatura e o toque;
  • 2020: Harvey J. Alter e Charles M. Rice (Estados Unidos) e Michael Houghton (Reino Unido) por seu papel na descoberta do vírus que provoca a hepatite C, uma doença que mata 400.000 pessoas a cada ano. Suas pesquisas contribuíram para o desenvolvimento de exames de sangue e tratamento eficazes;
  • 2019: William Kaelin e Gregg Semenza (Estados Unidos) e Peter Ratcliffe (Reino Unido) por suas pesquisas sobre a adaptação das células ao aporte variável de oxigênio, o que abre perspectivas para o tratamento contra o câncer e a anemia;
  • 2018: James P. Allison (Estados Unidos) e Tasuku Honju (Japão) por suas pesquisas sobre a imunoterapia, especialmente eficazes no tratamento de casos de câncer agressivos;
  • 2017: Jeffrey C. Hall, Michael Rosbash e Michael W. Young (Estados Unidos) por suas descobertas sobre o relógio biológico interno que controla os ciclos de vigília-sono dos seres humanos;
  • 2016: Yoshinori Ohsumi (Japão) por suas pequisas sobre a autofagia, cruciais para entender como as células se renovam e a resposta do corpo à fome e às infecções;
  • 2015: William Campbell (Irlanda/EUA), Satoshi Omura (Japão) e Tu Youyou (China) por terem desenvolvido tratamentos contra infecções parasitárias e malária.;
  • 2014: John O’Keefe (Estados Unidos/Reino Unido) e May-Britt e Edvard Moser (Noruega) por suas pesquisas sobre o “GPS interno” do cérebro, que pode permitir avanços no conhecimento do Alzheimer.

Esta gostando do conteúdo? Compartilhe!