Juiz de Fora passa a ter aplicativo de transporte para mulheres

Por enquanto, as corridas são feitas por meio de agendamentos; alternativa é vista como mais segura pelo público feminino

Nesta semana, chegou a Juiz de Fora o aplicativo de transporte para mulheres ‘Lady Driver’, voltado para o público feminino. Na plataforma, que é privada, podem se cadastrar motoristas mulheres que atendem apenas a passageiras mulheres, e também seus filhos com idades entre 8 e 16 anos e idosos acima dos 75 anos. Por enquanto, as corridas têm ocorrido por meio agendamento, mas a expectativa é de que cada vez mais tenham motoristas disponíveis para atender a chamados imediatos.

De acordo com embaixadora da Lady Driver, Débora Fernandes, o aplicativo de transporte para mulheres está há cinco anos no mercado e já chegou a mais de cem cidades do Brasil. Em Juiz de Fora, o aplicativo já conta com 55 motoristas e cerca de duas mil passageiras cadastradas. Para se cadastrar, é preciso que as motoristas tenham a autorização da prática de atividade remunerada vinculada à CNH e um carro com até dez anos de uso. “Atendendo a esses dois requisitos, a interessada baixa o aplicativo para motorista, insere seus dados e seus documentos de identidade e os do carro. O app também faz, automaticamente, uma checagem dos antecedentes criminais para a aprovação”, explica.

 

 

 

O foco é o público feminino, mas também a modalidade “Lady Kiddos”, em que podem ser transportados os filhos dessas mulheres, crianças ou adolescentes, sem o acompanhamento de um adulto. Da mesma forma, o “Lady Care” transporta os idosos, homens ou mulheres, que precisem de um atendimento cuidadoso na terceira idade. Para todos os casos, Débora afirma que as motoristas recebem treinamento.

“Nós atendemos a um público que quer mais segurança e mais cuidado, aquele olhar da mulher dentro do carro e durante o transporte”, diz. O agendamento foi escolhido como uma forma de começar a trabalhar na cidade, para que as usuárias possam se planejar quanto a horários, tendo em vista a disponibilidade das motoristas. “A nossa tarifa é similar aos aplicativos de mercado. Quando a pessoa faz o agendamento, aparece o valor, e quando faz agendamentos recorrentes passa a ter um desconto de 10%”, diz. Conforme explica, “em breve” será possível atender a chamados imediatos pelo aplicativo de transporte para mulheres.

Simulação

Segundo Débora Fernandes, a tarifa será similar a praticada em Juiz de Fora por outros aplicativos, como Uber e 99. Em simulação feita pela Tribuna, nesta quarta-feira, uma viagem do Estrela Sul para o Parque Halfeld, no Centro, custaria, pelo Lady Driver, cerca de R$ 13. Pela Uber, o mesmo trajeto no mesmo horário custaria R$ 14,91. Já o 99, ofereceu a viagem por R$ 10,70.

Aplicativo de transporte para mulheres é visto como mais seguro por passageiras

A jornalista e publicitária Ruth Flores, 28 anos, afirma que ao solicitar uma viagem por aplicativos, sempre se sente mais segura quando encontra uma motorista. Para ela, ter uma opção que já garante essa alternativa é ainda melhor. “Já passei por vários constrangimentos, com piadas feitas por motoristas homens, algumas tentativas de conversas estranhas e também perguntas invasivas e muito pessoais”, revela. Ela ainda afirma que, no período noturno, o receio de acontecer algo durante o transporte é maior, e por isso geralmente opta por compartilhar a corrida com um contato seguro via Whatsapp, quando sente que o motorista “ultrapassa alguns limites de uma simples conversa cordial”.

Da mesma forma, a assistente social Tatiane Valadão, 31, que utiliza aplicativos de transporte quatro vezes por semana, afirma que já se sentiu diversas vezes incomodada e com medo devido à postura dos motoristas. “Já fui cantada de forma invasiva várias vezes e já sofri ameaça por ser bissexual e estar com uma companheira”, relembra. Ela afirma que sempre prioriza, ao utilizar esse tipo de transporte, a “segurança, valores e respeito”, e por isso, também prefere quando as motoristas são mulheres.

Para Associação, plataforma ‘tem que vir para ficar’

O diretor da Associação dos Motoristas de Aplicativos de Juiz de Fora e Zona da Mata (AMA JF-ZM), Sostenes Josué, explica que essa é uma grande alteração para as mulheres que preferem trabalhar ou andar no carro com mulheres. “Não altera o funcionamento dos transportes particulares, mas traz pra cidade mais uma opção de transporte. (…) É uma alternativa que tem que vir pra ficar, para que os aplicativos realmente consigam atender e incluir todos”, avalia. Conforme cita, o índice de motoristas que apresentaram algum problema transportando mulheres em Juiz de Fora é baixo, mas o pedido por mais recursos de segurança é um tópico que ainda está sendo discutido e cobrado em congressos do Governo Federal e na Câmara.

Para ele, casos como o que aconteceram em Belo Horizonte, onde um motorista abandonou uma jovem embriagada, devem ser combatidos, já que a atitude se configura como um abandono de incapaz e vai contra as diretrizes de todos os aplicativos. Por isso, ele considera que as mulheres que se sentem mais seguras andando com outras mulheres podem, agora, “mudar a preferência de aplicativo” entre os que já usam. Ele afirma, ainda, que há outras medidas que ajudam a melhorar essa segurança, e usa como exemplo o que a 99 fez, passando a mostrar a foto do motorista, a sua nota, há quantos anos ele está no aplicativo, e ainda verificam se o nome e o CPF correspondem aos do cartão bancário confirmado.

Comissão elogia iniciativa, mas defende regulamentação

Para o presidente da Comissão de Urbanismo e Transporte da Câmara Municipal de Juiz de Fora, João Wagner Antoniol (PSC), o transporte por aplicativo ainda precisa ser regulamentado na cidade – tanto no caso dos que já existem quanto dos que estão chegando agora. Ele cita o aplicativo “Só pra elas”, que também funciona de forma direcionada para o público feminino, e afirma que, mesmo nesse cenário, considera as ações voltadas para esse nicho como positivas. “É um transporte que vai beneficiar as mulheres, o que é muito positivo, porque ajuda a diminuir a possibilidade de violência contra elas. Mas reitero que ainda é preciso primeiramente regulamentar o transporte por aplicativo na cidade”, diz.

Legenda: FOCO É o público feminino, mas plataforma também agenda viagens para crianças, adolescentes e idosos

Esta gostando do conteúdo? Compartilhe!