Interesse pelo islamismo cresce em Juiz de Fora diante da guerra

Muçulmanos que vivem na cidade a descrevem como pacífica, mas islamofobia ainda é motivo de preocupação

Desde o início dos conflitos que desencadearam a atual guerra entre Israel e o Hamas, junto à profusão de informações que circulam diariamente, sobretudo nas redes sociais, a dúvida paira sobre quem está fora dos acontecimentos. Nesse contexto, a Mesquita de Juiz de Fora tem recebido muitos visitantes procurando entender a situação. “As pessoas que nos procuram aqui querem saber o que é preciso para acabar esse conflito”, conta o Sheikh Hosni Youssef.

Para dar conta de um questionamento tão complexo, o líder religioso nascido do Egito relata o contexto histórico, sob seu ponto de vista, sobre o território em disputa e apresenta nuances sociais, geográficas, políticas e religiosas presentes nas relações ao longo da história entre Israel e Palestina. Já os encontros religiosos recebem, segundo Youssef, entre 50 e 80 pessoas regularmente. Mas a comunidade islâmica na cidade é maior, garante. “Há momentos que recebemos até 300 pessoas”, quantidade que o local não comporta com conforto por questão de espaço. Apesar de não ser palestino, a situação e o sofrimento do povo muçulmano na Faixa de Gaza abalam o Sheikh, que lamenta tristeza perante os acontecimentos.

 

 

 

Nascido no Líbano, Khaled Hammoud, frequentador da mesquita, veio ainda criança para o Brasil. “A gente recebe vídeos diretamente do nosso povo (muçulmano). Ontem eu chorei de noite. São tantas crianças massacradas, tanta gente embaixo dos escombros, pais tentando ressuscitar filhos. Até arrepio, é uma coisa realmente assustadora, e não sabemos o futuro”, relata, consternado.

Islamofobia preocupa

A evidência do conflito tem colocado os muçulmanos em uma situação delicada ao redor mundo. Qades Saed, que mora em Mogi das Cruzes, no interior de São Paulo, conta não ter sido vítima de ofensas islamofóbicas, mas que é “uma coisa preocupante, que cada vez mais vem aumentando”.
Nos Estados Unidos, o preconceito religioso contra muçulmanos culminou em um crime de ódio. “Um homem foi acusado de matar uma criança de seis anos e esfaquear a mãe dela”, conta Naim Mughrabi. O caso aconteceu em Plainfield, no estado de Illinois. Mughrabi mora em Chicago há 12 anos. Desde o início da guerra, ele conta que na cidade já aconteceram três manifestações pró-Palestina. Nos eventos, a situação é tranquila, segundo ele. O que incomoda Mughrabi é a cobertura midiática, “sempre contra os palestinos”.

Juiz de Fora, lugar pacífico para o islamismo

Em Juiz de Fora, Youssef pondera sobre a violência on-line. Durante a conversa, inclusive, ele reclamava que não conseguia postar vídeos sobre o ponto de vista que defende em relação ao conflito. Um ar com suspeita de boicote das redes sociais pairava. Apesar da preocupação com a islamofobia, Juiz de Fora é tido como um lugar pacífico para os muçulmanos que aqui moram e que conversaram com a reportagem.

Hammoud, entretanto, afirma que um preconceito velado existe, de forma estrutural, disfarçado de piadas que deduzem muçulmanos como terroristas. No mais, quem sofre são as mulheres. “Várias irmãs aqui já tiveram a roupa ou o hijab (véu islâmico que cobre o cabelo, as orelhas e o pescoço) puxados no ônibus”, exemplifica. Porém, os atos não são associados diretamente à guerra que está em curso, pois ocorrem há tempos.

Ainda assim, Hammoud diz que o preconceito não é algo que tenha aumentado neste momento; pelo contrário, ele acredita que “o povo está conhecendo melhor o islamismo, está vendo que os muçulmanos não são os terroristas que aparecem lá”. Para atestar tal afirmação de pacificidade, Geraldo Magela, brasileiro iniciado no islamismo e frequentador da Mesquita, ostentava a placa da Moção de Aplausos entregue este ano pela Câmara Municipal de Juiz de Fora ao líder religioso e à comunidade islâmica da cidade. “Moro no Manoel Honório e, ao acordar, ouço o cantar dos pássaros. É terrível imaginar que lá (em Gaza) não é assim”, diz Magela, clamando por paz.

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