Comércio virtual alavanca economia de microrregião de Ubá

Antenadas com as mudanças de comportamento de consumo e com a nova era dos negócios digitais, empresas de Ubá e região adotam o e-commerce, sobretudo através de marketplaces, para projetar suas marcas para muito além das montanhas

Não é simples manter-se na liderança por tanto tempo no mundo em constante transformação. Primeiro em Minas e segundo maior do país, o polo moveleiro de Ubá faz das tecnologias digitais instrumentos para seguir liderando, gerando novos negócios e oportunidades na era dos marketplaces. Com mais de 13 mil lojistas cadastrados por todo Brasil e atendendo, em média, a cerca de 240 mil clientes por mês, o MadeiraMadeira se transformou em uma das principais marcas empregadoras da região, com a oferta de 140 postos de trabalho. Tanto que, há quatro anos, inaugurou um centro de distribuição em Ubá, onde estão concentrados seus principais fornecedores.

“O investimento em centros de distribuição é a consequência dos bons resultados que temos com o polo, e também pensado para impulsionar o crescimento da MadeiraMadeira. Em 2019, inauguramos nosso centro de distribuição com o objetivo de nos tornar ainda mais atrativos para nossos fornecedores e oferecer uma melhor experiência para nossos clientes. Isso reforça o quanto estamos comprometidos em avançar no desenvolvimento do mercado em parceria com a região de Ubá”, explica o co-fundador e ChiefGrowth Officer (CGO) da MadeiraMadeira, Robson Privado.

A empresa comercializa produtos do polo moveleiro por meio de aplicativo, site, em 80 lojas próprias e também por meio de seu serviço de televenda. “O polo é estratégico para a MadeiraMadeira. Junto com os fornecedores da região, conseguimos oferecer um portfólio mais diversificado de móveis produzidos com excelência em qualidade, design inovadores e com um ótimo custo-benefício. É notável como Ubá e a região avançaram significativamente em inovação”, acrescenta Robson.

Segundo ele, anteriormente, a indústria local apenas acompanhava as tendências, mas hoje é capaz de defini-las, inclusive por um fator essencial que é a qualidade, seja na engenharia do produto, embalagem e montagem, dentre outros. “Para nós, que temos como primeiro princípio a obsessão pelo cliente, isso é extremamente motivador, pois nos impulsiona a investir cada vez mais e a fortalecer nossa parceria com o polo”, revela o CGO.

A Roggi Home Design, fábrica também localizada em Ubá, é outro grande exemplo de como o marketplace e o e-commerce estão fazendo a diferença na expansão do polo moveleiro. A fábrica de puffs e poltronas comercializa 95% de sua produção pela internet. A proprietária Gisele Toma, que atua junto com o sócio e marido, Roberto Gomes, explica que, embora a loja da fábrica possua site próprio, a maior parte das vendas se dá através do marketplace. A marca está presente, inclusive, em sites de origem chinesa.

“Vendemos apenas 5% dos nossos produtos para lojistas, porque nosso varejo é todo pela internet. Com isso, conseguimos atingir clientes que antes eram inatingíveis. Uma das grandes vantagens de estar em Ubá é conseguir um bom preço na matéria-prima dos nossos produtos”, observa a empresária.

Outra fábrica tradicional com mais de 30 anos no mercado e cerca de 300 funcionários, a Carolina Baby dedica-se exclusivamente à produção de móveis infantis. O proprietário Aureo Calçado Barbosa, que preside o Sindicato Intermunicipal das Indústrias do Mobiliário de Ubá (InterSind), afirma que as vendas on-line representam quase 70% do total.

“As vendas pela internet tiveram crescimento exponencial durante e depois da pandemia. Antes de comprar, tudo que qualquer pessoa faz é pesquisar na internet. O tem valor é a confiabilidade da marca. Esse é o grande segredo do e-commerce. Temos que trabalhar com ferramentas, para atingir nosso público-alvo, por isso também investimos no marketplace”, revela Aureo.

A Carolina Baby também utiliza conceitos da Indústria 4.0, que é a definição de customização em massa, compreendendo um amplo sistema de tecnologias avançadas, como inteligência artificial e robótica, que estão mudando as formas de produção e os modelos de negócios.

Inteligência artificial na ordem do dia

 

Diretor fundador da Salleto Móveis, Gilberto Coelho, que está no ramo há mais de 30 anos, explica que a empresa já passou por muitas mudanças, e a tecnologia é uma das grandes responsáveis pela evolução. A fábrica, que começou com apenas dois colaboradores, hoje emprega mais de 200 em um parque fabril próprio, com 46 mil metros quadrados. São 110 toneladas produzidas por dia graças à Indústria 4.0.

“Está chegando muita coisa em termos de agilidade de produção, para facilitar a vida do trabalhador. Hoje, a robótica retira todo peso que o colaborador pegava, assim como não é mais necessário fazer movimentos de tronco. Não existe mais certos riscos na operação, porque são máquinas. É uma evolução muito grande, que vejo positivamente”, afirma Gilberto. “A parte da pintura era muito obsoleta e prejudicial, porque os produtos químicos poderiam causar câncer de pulmão. A realidade agora é outra, além de a pintura não gerar nenhum mal ao funcionário, ela gera uma produção altíssima.” O processo que demandava três dias para ser concluído, hoje leva minutos. “Sem gerar nenhum poluente”, observa o empresário, ao destacar que a saúde do trabalhador é uma das maiores preocupações.

Apesar de a fábrica não efetuar venda direto ao consumidor final, limitando-se a revendedores, o e-commerce teve crescimento exponencial no pós-pandemia para a Saletto Móveis. “É uma venda mais direcionada. Antes da pandemia, atingíamos o patamar de 3% para esse tipo de cliente. Hoje estamos com 14% e a tendência é aumentar. A venda pela internet é fundamental para manter o giro na empresa.”

Modernidade exige menos burocracia

 

A Prefeitura de Ubá também precisou se modernizar para atender as mudanças geradas a partir do uso das tecnologias digitais pelo polo moveleiro. O secretário municipal de Planejamento e Desenvolvimento Sustentável, Ricardo Antônio do Nascimento, observa que o Executivo está eliminando a burocracia provocada pelo uso de papel.

“As mudanças começaram quando a Prefeitura iniciou o processo de licenciamento ambiental municipal, que antes era uma competência do Estado, através da Superintendência Regional de Meio Ambiente. Em 2021, trouxemos o licenciamento para Ubá, que tem, em média, 350 fábricas de móveis. Na região, deve ter cerca de 600 empresas do ramo. As fábricas tinham que pedir o licenciamento em Belo Horizonte. Às vezes, um pequeno empreendedor ficava um, dois, três anos esperando autorização para funcionar. Nós iniciamos aqui o serviço digital, totalmente on-line, através do nosso site”, explica o secretário.

O novo ambiente de negócios está, inclusive, estimulando o retorno de uma grande indústria. Segundo o secretário, todas as ações promovidas pela Prefeitura têm o objetivo de deixar a cidade mais sustentável e inovadora. Por meio de parceria com o Serviço Social da Indústria (Sesi), alunos de escolas públicas de Ubá têm a oportunidade de cursar robótica.

“Estamos levando para as crianças o conhecimento nessa área e tem sido muito bacana, uma troca fantástica. Conforme depoimento dos pais e dos próprios diretores das escolas, os meninos estão mais antenados, mais responsáveis e mais preocupados”, observa o gerente do Sesi e também do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Cláudio Belosi. As duas entidades estão bem próximas às indústrias do polo moveleiro. Juntas ao empresariado, detectam possibilidades de melhorias, incluindo o uso de novas tecnologias que fazem a região seguir ostentando a liderança em Minas há várias décadas.

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