Com 6.590 vagas, Concurso Nacional Unificado gera expectativa entre concurseiros

CNU, que criará modelo único de seleção para diversos órgãos federais, está previsto para acontecer em 2024, mas já divide opiniões

O atual sistema de seleção para cargos do serviço público federal, em que cada instituição é responsável pelo próprio concurso, mudará a partir do ano que vem. Em 2024, será realizado o Concurso Nacional Unificado (CNU), método de seleção única, que acontecerá simultaneamente em 179 cidades do Brasil, inclusive Juiz de Fora, e preencherá 6.590 vagas de 20 órgãos do Governo federal. A iniciativa é do Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos (MGI) e visa agilizar a contratação de servidores.

O CNU foi inspirado no modelo utilizado pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), com o objetivo de ampliar e democratizar o acesso da população brasileira às vagas do serviço público federal, além de aumentar a diversidade sociodemográfica e territorial dos servidores públicos.
O edital do CNU está previsto para sair até o dia 20 de dezembro. Nele, estarão presentes informações como a data de abertura das inscrições e os conteúdos que serão cobrados na prova, que serão definidos em conjunto com os órgãos que optaram por aderir ao novo modelo de seleção de servidores – cada um teve autonomia para decidir se queria participar ou se conduziria sua própria seleção.

 

 

Eixos de atuação
No momento da inscrição, o candidato deverá optar por um dos blocos das áreas de atuação governamental disponíveis. Ao todo, serão oito eixos de atuação: administração e finanças; setores econômicos, infraestrutura e regulação; agricultura, meio ambiente e desenvolvimento agrário; educação, ciência, tecnologia e inovação; políticas sociais, Justiça e saúde; trabalho e Previdência; dados, tecnologia e informação pública; além do nível intermediário. A lista detalhada com o número de vagas para cada área e com os órgãos que aderiram o Concurso Nacional Unificado inclui órgãos como o próprio MGI, a Agência Nacional de Energia Elétrica, o Ministério da Agricultura e Pecuária, o Ministério da Educação e a Funai, entre outros. A lista completa está disponível neste link.

A prova, que tem previsão de acontecer no dia 25 de fevereiro de 2024, será dividida em duas partes. Na primeira etapa, será aplicado um teste apenas com questões objetivas e unificadas para todos os candidatos. Em seguida, na segunda etapa, serão aplicadas provas dissertativas, essas com conteúdos específicos, de acordo com cada bloco temático.

Os resultados gerais da primeira fase do CNU devem ser divulgados até abril de 2024, e os cursos de formação estão programados para ter início entre junho e julho. Por fim, os processos de alocação e ambientação dos servidores estão previstos para acontecer entre julho e agosto do ano que vem.

Pontos positivos e negativos

O professor de redação voltada para concursos públicos Raphael Reis acredita que há aspectos positivos no CNU, porém pondera que existem problemas a serem analisados, já que esse modelo é inédito. “De aspectos positivos, eu destacaria o esforço que o Governo tem ao fazer uma seleção unificada para juntar diversos órgãos, e cobrir assim o déficit, além de, provavelmente, reduzir gastos com a execução de concursos públicos. Para o aluno, o lado positivo também vai ser que, a priori, o candidato poderá escolher dois cargos, então ele tem uma possibilidade maior, se conseguir se sair bem, de ser aprovado dentro do eixo escolhido”, avalia.

“De aspecto negativo, na minha opinião, é que essa organização, em nível nacional, pode gerar mais problemas, porque não dá para você comparar o Enem com concursos públicos. Na questão da logística, tudo bem, mas serão oito eixos, pelo menos até o momento, com diversas disciplinas diferentes. Como é que vai ser a execução disso? A gente ainda não sabe como a banca vai conseguir se organizar para dar conta dessa diversidade, porque é a primeira experiência”, complementa Reis.

O professor aponta outro aspecto a ser avaliado no CNU. Segundo ele, os cargos disponibilizados exigem provas com complexidades diferentes. “No mundo dos concursos públicos, existem diversos cargos, que possuem remunerações diferentes, complexidades diferentes. E nesse unificado haverá cargos com salários de cerca de R$ 3 mil até cargos que pagam mais de R$ 20 mil. Os concursos de nível mais alto têm uma complexidade maior, uma exigência maior. Isso também pode atrapalhar bastante”, adverte.

Reis entende que o melhor modelo a ser seguido ainda é o atual, em que cada órgão é responsável pelo seu método de seleção de servidores, mas acredita que o modelo do CNU não será o fator mais determinante para aprovações. “Eu, particularmente, defendo que é melhor concurso para cada órgão. Mas essa é ainda a primeira experiência e realmente gera essas incertezas, essas inseguranças. Mas aprovação não é difícil ou fácil dependendo do modelo, e sim da preparação do aluno. O concurseiro tem que ter a consciência de que precisa estudar a médio e longo prazo. Eu acredito que no CNU, se realmente for assim concretizado, o candidato poderá optar por dois casos, e isso aumenta as possibilidades de aprovação”.

Princípio da Eficiência

Cristian Evangelista, professor de direito constitucional do Logos Concursos, voltado para concursos, acredita que a mudança do atual modelo de avaliação para o CNU será positiva. “Considero que esse novo modelo de concurso prestigia alguns dos princípios da Administração Pública, previstos na Constituição da República, dentre eles o princípio da eficiência, já que um concurso único, em nível federal, para o preenchimento de vagas em cargos de diversos órgãos, é muito mais eficiente do que cada órgão realizar o seu próprio certame”, diz.

Concurseira desde o ano passado, Mariana Liguori, 26, também entende que existem pontos positivos e negativos no CNU, mas se mostra contrária à mudança. “Com uma prova só você consegue concorrer a vários cargos, o que diminui gasto com inscrição e também tempo de estudo; porém, a concorrência é muito maior, apesar de ter um grande número de vagas. Além disso, também acho que, apesar de reduzir os gastos com inscrição, acabam diminuindo as oportunidades de passar, pois, ao invés de ter várias provas, você acaba tendo só uma”, afirma.

Mariana acredita que o novo modelo de avaliação terá impacto na rotina de estudos dos concurseiros. “A questão do estilo de prova e rotina é complicada, porque acho que exige uma preparação extremamente específica e você não pode errar muito, e isso muda a rota de quem está estudando para outras coisas. A tendência é que a nota de corte seja muito alta, e como é primeira vez que vai ter, fica difícil saber o que esperar da prova”, avalia Liguori.

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